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Justiça Climática e Literária: Carlos Drummond de Andrade estará no Tribunal

-JULIANA TORRES-


Por Donatas Dabravolskas - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=111890450

Sim, nosso destacado e aclamado Escritor mineiro será levado ao Tribunal.


E, ambos os lados, Acusador e Acusado, estarão em pleno acordo sobre isso.


Afinal, todos os estudantes deste país que têm concluído o ensino médio há décadas sabem ,em detalhes, o que há em Itabira.


Conhecer as denúncias feitas pelo Autor, como fizeram tantos outros da literatura nacional e latino-americana em diferentes localidades, sobre a exploração minerária predatória, é um enorme passo no reconhecimento da necessidade do efetivo controle e recuperação dos impactos ambientais na região.


É como um jogo em que todos já conhecessem as regras, “de cor e salteado”.


Imaginem que você e seus amigos se deparam numa casa de veraneio com familiares e amigos praticamente desconhecidos para uma festa de Natal. Em determinado momento, alguém propõe uma partida de dominó. Isso pode lhe trazer conforto, não? Passar alguns dias com pessoas “estranhas” pode ser amargo, mas se todos passarem a falar a mesma língua – dominó- haverá minutos doces de lazer.


É isso a que se pretende a atividade de ensinar, argumentar a defesa socioambiental a partir de versos, poemas ou crônicas conhecidas do grande público estudantil. A essa prática, dei o nome de Justiça Climática e Literária”. Na medida em que as autoridades judiciárias brasileiras se valerem da literatura (e das artes, em geral) para compreenderem melhor os fatos, obterão mais elementos para um trabalho de excelência.


Que tal iniciarmos um processo com um poema que demonstra quão antiga é a exploração predatória da empresa Vale?


Vejamos este, do inesquecível Drummond:


Lira itabirana


I

O Rio? É doce.

A Vale? Amarga.

Ai, antes fosse

Mais leve a carga.


II

Entre estatais

E multinacionais,

Quantos ais!


III

A dívida interna.

A dívida externa

A dívida eterna.


IV

Quantas toneladas exportamos

De ferro?

Quantas lágrimas disfarçamos

Sem berro?

 

Fica mais fácil compreender os fatos com esse apanhado histórico, reconhecidamente verdadeiro?


É nesse caminho que se encontram pesquisadores brasileiros, reunidos no recente Seminário sobre Literatura e Ecologia na América Latina, que integra o II Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina na Universidade de São Paulo - USP (detalhesem IBAP presente em Simpósio Latino-Americano na USP).

Apresentar a intersecção entre Literatura e Ecologia é uma prática pouco difundida no Brasil, sobretudo no universo jurídico, como destacou o Professor Guilherme José Purvin de Figueiredo, nesta ocasião.


Há algum motivo para isso? Enquanto pensamos, vale a pena tentar aplicar mais um argumento ao frágil e desalentador processo judicial que busca reparar as vítimas da tragédia provocada pela empresa Samarco em Mariana, na data histórica de 05/11/2015.


A excelência (literária, juridica, ecológica, geográfica...) agradece!


 

Juliana Torres, Professora de Direito Ambiental, Advogada Ambientalista e Mediadora. Consultora do IBAP e Membro da APRODAB.





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