-FREDERICO ARZOLLA-
É preciso ter em mente que pessoas são agentes de mudança. Podem ser de avanço ou retrocesso.
Nós enquanto humanidade estamos numa espiral evolutiva. No entanto, mesmo que tecnologicamente avancemos, enquanto mentalidade podemos cair em épocas de retrocesso.
Este país está imerso em seu maior retrocesso nos últimos tempos. As pessoas estão perdendo sua capacidade de discernimento. Existe uma grande cegueira causada pela disseminação de notícias falsas, de mensagens de incitação ao ódio e à violência originadas por movimentos de caráter autoritário.
A cegueira de uma população pode levá-la ao precipício, e assim, para o abismo. Convictos de terem razão, além de não enxergarem mais, também não ouvem e vivem suas próprias convicções, alimentadas por uma fonte massiva de notícias falsas.
E por que estas notícias e incitações ecoam nas pessoas? O que aconteceu com o espírito crítico? Por que se perdeu o senso do verdadeiro e a busca por ele?
Vejo que as pessoas perderam o centro, perderam sua consciência. A consciência é aquilo que nos guia. É a capacidade de ver, ouvir, refletir e ponderar.
A repetição massiva e o ataque e a circulação de notícias falsas pelo neofascismo e movimentos congêneres tem destruído a consciência de muitas pessoas, ao perderem a capacidade de discernir e raciocinar. Com a mente aberta, sem filtros nem defesas, o ser humano simplesmente reproduz o que recebe e toma aquilo como verdade.
Há muitos interesses neste mundo. Há os interesses de empresas, de partidos, de igrejas, dos meios de comunicação e assim por diante. Quantos compram os produtos, quantos são os filiados, quantos são os fiéis, quantos assistem? O que se tem é o domínio sobre as massas. É o domínio e o controle da sociedade, impondo seus produtos, ideologias, dogmas, pontos de vista, visões e modelos de sociedade.
A sociedade está a mercê desses controladores de mentes. Ao ligar a televisão, ao ver o whatsapp, ao assistir a um culto ou uma missa, ao navegar pela internet e ver seus conteúdos.
Os controladores de mentes estão a serviço do poder econômico, do poder religioso, do poder político que hora se misturam e tornam-se um só.
O processo de anulação da consciência individual é constante, repetitivo, e o indivíduo passa a aceitar essas mensagens como verdadeiras.
Haverá um grande esforço para reverter esse processo desencadeado pelos movimentos autoritários, dos quais o bolsonarismo é seu maior representante nos últimos anos. Em primeiro lugar, eliminar o ódio disseminado, pois o ódio cega as pessoas e impede o diálogo. Sem o ódio, estabelece-se a troca de idéias e de informações.
Precisamos fortalecer a educação deste país e o senso crítico das pessoas, de saber questionar as informações que recebem e denunciar abusos ou situações de difusão de mentiras e de ódio e violência.
Qual será a verdade? Essa é a busca. Vivemos em uma sociedade construída sobre fundamentos que são os seus alicerces. O questionamento nos faz contrastar posições e dialogar, verificando diferentes fontes, diferentes opiniões, diferentes visões de mundo.
A busca pela verdade é libertadora, traz de volta ao indivíduo o centro de sua vida. Separa o ambiente e tudo que vem de informação do centro do seu ser.
Reconhecer os interesses por trás das informações que circulam pelo mundo e o que há nelas de verdade é uma premissa. Dessa forma podemos contrapor o fanatismo e a aceitação incondicional do que se vê e do que se ouve. Ah, o jornal disse isso, o pastor disse aquilo ...
Trazer o indivíduo para o seu centro é restabelecer os meios para que ele siga a sua consciência, que o mundo exterior seja filtrado e analisado, antes de ser assumido como verdadeiro.
A população deste país está se perdendo ao acreditar em falsos líderes, em falsos profetas, em falsos apresentadores de notícias, ou apresentadores de falsas notícias, e sujeitos que deturpam a verdade de acordo com os seus interesses e daqueles que representam.
Tenhamos fé e persistência e perseverança em nossas ações. Quem está desperto e percebe o que está acontecendo tem um papel a desenvolver. Não pode cruzar os braços.
Vejo as luzes emergindo, brilhando e iluminando, e assim, dissipando as sombras por onde passam. Há um longo e difuso caminho a seguir.
Uma população que passa dificuldades fica a mercê da disseminação de mentiras e do ódio. Para combater o ódio, há que se ter o amor ao próximo e paciência. Não podemos combater o ódio com o ódio e as mentiras com outras mentiras. É o bem que prevalece sobre o mal.
Não nos acomodemos, nem deixemos a pessoa ao lado se acomodar. Para que surja efeito e haja a transformação da sociedade temos que ser como faróis a iluminar.
Lembro-me da figura histórica do acendedor de lampião que passava de poste em poste acendendo as luzes de uma cidade. Que cada um receba o seu chamado e se una neste esforço global de irradiar luz para a humanidade. Há um mundo inteiro a emergir nessa corrente do bem, da verdade e do amor ao próximo.
Frederico Arzolla é Engenheiro Agrônomo, Doutor em Biologia Vegetal, Pesquisador em Conservação da Natureza e Florística e Fitossociologia de Árvores da Mata Atlântica.
Excelente texto. A importância em mantermos nosso eixo, nosso caráter, como filtro para as informações externas. Vai ser trabalhoso este retorno para muitos, porém necessário !!
Muito bom. Precisamos manter a calma, lembrar o que está em jogo e seguir enfrentando essa avalanche neofascista, até sairmos do outro lado dessa onda de terror arquitetado
Excelente texto. Já que estamos sempre diante da necessidade de decidir, busquemos o fundamento para as nossas decisões em fatos apuráveis independentemente de nossa propensão a acreditar neles e fujamos dos messianismos.